sexta-feira, 1 de julho de 2016

Recado para o amor da minha vida

Oi Vó.

Tudo bem? Eu espero que sim. Não tem sido fácil esses dias sem você. Mas o alívio em saber que você não sofre mais, dá uma trégua na dor. Você queria mesmo partir? Sei que não. Mas sei também que não queria sentir dor. Foi um mês difícil. Um mês me acostumando com a sua ausência e tentando colocar na cabeça que eu talvez te perderia. Não me acostumei com ela e nem coloquei essa ideia na cabeça. Pra mim, você ainda está lá, na sua casa, esperando a gente para o almoço de domingo. Ou me esperando com a cama arrumada pós noitada. Pra mim, vou tocar o interfone e vou te encontrar em pé, na porta, com os braços cruzados de frio, com um sorriso tímido no rosto esperando meu abraço. Tem uma calça minha com um buraco no joelho, aquela do meu tombo de moto, lembra? Eu tava esperando você melhorar para remendar ela pra mim. Assim como tantos casacos, calças e blusas que sempre arrumavam um jeito de rasgar e que você sempre conseguia arrumar.
Meu bolo de cenoura deu certo. Consegui errar o ponto igual a senhora. Mas ainda não é o seu. Ainda não é igual. O jeito vai ser manter o gosto do seu na memória e tentar melhorar o meu cada vez mais.
Saudade do seu cheiro. Da sua pele macia e enrugadinha. Da sua gargalhada. Da sua cara quando ia me dar bronca. Do seu olhar de d'Angelo que eu herdei muito bem.
Ainda escuto seu tamanquinho pela casa. O barulho da porta do quarto abrindo de madrugada, quando a gente fazia tanta bagunça que você tinha que ir lá mandar todo mundo ficar quieto e dormir.
Saudade dos seus cuidados, dos seus lanchinhos, da sua companhia e ensinamentos. Saudade da sua letra bonita nos cadernos, anotações importantes ou até em bilhetinhos carinhosos avisando que tinha comida na geladeira.
Você cuidou de mim muito bem. De mim, dos meus primos, minha mãe, meus tios e todos que conviveram com você. Você sempre acudiu quem precisava, abriu os braços e acolheu quem entrou na sua vida, deixou ser chamada de vó por todos que sentiam seus netos.
Fico pensando se a vida foi justa te tirar de mim, se já era o tempo. "d'Angelo não morre cedo". Me apeguei a essa ideia e acreditei que você sairiaa dessa. "Mas e se ela sobreviver dessa vez, como vou aguentar passar por isso de novo?". Pensamentos como esse não saíam da minha cabeça. Então eu entendi. Você ficou 1 mês longe. 1 mês sem eu poder conversar com você, sem poder me fazer cafuné, sem poder ser minha fada rainha. 1 mês pra eu me despedir aos poucos de você. É o que tento pensar, colocar na minha cabeça pra entender porque isso aconteceu com você.
É difícil entrar na sua casa e não te encontrar lá. Passar pelos cômodos e não te encontrar sentadinha na sala vendo tv, ou na cozinha preparando alguma comida, ou no banheiro, com o espelho na cara se aprontando pra ir comprar pão.
Mulher igual você nunca vai existir, Dona Neide. A senhora conquistou todo mundo com quem conviveu. Ensinou gerações. Encantou. Com seus 81 anos e seu corpinho de 30, seu condicionamento físico de dar inveja, seus inúmeros tupperware com uma letrinha N pra nunca ficarem perdidas, suas sacolas, potes, tabuleiros e milhões de utensílios que você dizia ter utilidade algum dia.
A pessoa mais sensacional que já pisou nesse planeta. A mulher que criou 5 filhos e 13 netos. Que me ensinou o que é caráter, integridade e honestidade. Que me apoiou em cada derrota, mas comemorou comigo cada vitória. Que me deu broncas igual minha mãe, mas que passou a mão na minha cabeça quando era ela me repreendendo.
A saudade que sinto não consegue ser descrita. A falta que você vai fazer, e já faz, muito menos. Hoje sinto um certo alívio em saber que agora você não sofre, mas também um vazio deixado pelo buraco deixado pela sua ausência.
Eu te amo, Vó. Muito e pra sempre.
Me espera onde você estiver pra gente tomar aquela cervejinha que nunca tive oportunidade de tomar com você. Pra eu poder cantar a música que você tanto gosta mas que você nunca ouviu pela minha voz. Pra eu te dar um abraço tão apertado e te sentir tão pequena nos meus braços. Pra eu sorrir com você mais uma vez e escutar mais uma história sua.
Até um dia, minha rainha. Eu te amo.


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